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Transplante de células tronco pode ser novo tratamento para diabetes tipo 1?

Entenda os avanços da Ciência



O Diabetes Tipo 1 é uma doença causada por uma reação auto-imune, em que as células de defesa do organismo passam a reconhecer as células beta pancreáticas, produtoras de insulina, como se fossem invasoras.1 Com a destruição destas células, a produção de insulina diminui, sendo necessário iniciar o tratamento de reposição com este hormônio.1 Se quiser saber mais sobre essa doença e as diferenças entre diabetes tipo 1 e tipo 2, acesse a matéria que publicamos anteriormente.


Como os sintomas geralmente aparecem após a destruição de aproximadamente 80% das células produtoras de insulina,1 quando diagnosticada, a pessoa possivelmente irá necessitar do tratamento, que envolve a suplementação do hormônio durante toda a vida.


Uma outra solução que vem sendo explorada é o transplante, tanto do pâncreas inteiro quanto de células pancreáticas isoladas.2 O tecido transplantado, por sua vez, irá produzir insulina independentemente de suplementação externa. Embora as duas técnicas tenham evoluído bastante desde sua criação e tenham suas vantagens particulares, ambas contam com diversas limitações, como:2,3

  • Falta de doadores;

  • Durabilidade a longo prazo;

  • No caso do transplante de células pancreáticas, apesar de ser menos invasivo, podem ocorrer efeitos adversos relacionados à própria infusão das células. Exemplos de efeitos relacionados ao transplante são: hemorragia e hematoma hepático (pois as células são implantadas na região do fígado).

  • Problemas relacionados à imunossupressão, que é necessária em todos os tipos de transplante para que o receptor não rejeite as novas células. Exemplos de problemas ligados à imunossupressão são: leucopenia e doença renal.


O motivo para uso da medicação imunossupressora é porque todas as células do nosso organismo possuem uma “assinatura imunológica”, que é reconhecida pelo sistema imunológico e evita que o organismo ataque as células dele mesmo numa reação autoimune. Quando um paciente é transplantado, o novo órgão (ou novas células) não possui essa assinatura. Então, para evitar que o organismo o reconheça como um invasor e o transplante seja rejeitado, os remédios diminuem a atividade de defesa imunológica.4




Transplante de células-tronco: uma nova abordagem

Considerando essas informações, a solução para o Diabetes tipo 1 proposta por algumas empresas de bioengenharia envolve transplantar células que possam se diferenciar no fígado e desempenhar o papel de produtoras de insulina. Assim, o paciente não precisaria mais usar suplementação de insulina e nem esperar por um doador de órgãos. Mas como isso seria possível?


Utilizando células-tronco! Células-tronco são células não-especializadas do corpo humano, que estão presentes tanto em embriões quanto em adultos. São capazes de se diferenciar em qualquer tipo de célula do organismo e possuem habilidade de auto-renovação.5 Por não apresentarem o problema da quantidade limitada de doadores, podem se tornar uma alternativa mais viável aos transplantes tradicionais.3




E foi isso que a empresa Vertex fez: em 2021 foi realizado o primeiro transplante em um paciente com diabetes tipo 1 usando células beta pancreáticas funcionais desenvolvidas a partir de células tronco. Uma reportagem do jornal americano The New York Times conta que procedimento foi bem-sucedido e o paciente pôde parar o uso de insulina, pelo menos até o presente momento.6


O que falta para esse tratamento se popularizar? Como em qualquer transplante de pâncreas, ainda será necessário que o paciente tome medicamentos imunossupressores para o resto da vida.6


Embora o paciente que participou dessa pesquisa afirme que prefere usar estes medicamentos a ter que constantemente monitorar a glicemia e tomar insulina,6 o ideal é que isso seja ajustado antes de disponibilizar o tratamento para o público geral. Por isso, algumas empresas, incluindo a própria Vertex,7 tem apostado na edição genética das células tronco que serão transplantadas.




Brian Shelton, primeiro paciente que realizou o transplante pela Vertex.

Foto: The New York Times.



Edição genética de células-tronco

A técnica, chamada CRISPR, permite realizar edição de material genético, cortando ou introduzindo as sequências que forem necessárias, modificando as células para que estas não sejam reconhecidas (e atacadas) pelo sistema imunológico. Dessa forma, o problema da rejeição dos transplantes é solucionado sem a necessidade de manter o paciente permanentemente imunossuprimido.


O anúncio feito no início de Fevereiro por uma parceria entre as empresas ViaCyte e CRISPR Therapeutics aponta que esta realidade está cada dia mais próxima: as empresas deram início ao estudo clínico de fase 1 do produto desenvolvido por elas. Esse estudo tem o intuito de estabelecer a segurança, efeitos colaterais e capacidade das células de escaparem da resposta imunológica.8 O primeiro paciente já recebeu as células pancreáticas desenvolvidas a partir de células tronco geneticamente modificadas.8


Embora a notícia seja animadora, é importante ter cautela, pois ainda se trata de um tratamento em desenvolvimento. Caso a resposta seja boa, ainda devem ser realizados estudos de fase II e III antes da sua liberação, para que a eficácia e segurança do medicamento sejam testadas em mais pessoas.9 Além disso, as empresas prevêem que ainda que o transplante tenha a capacidade de permitir independência da insulina, semelhantemente ao transplante que vem de doadores, sua durabilidade seja limitada.


Apesar dessas ressalvas, os estudos pré-clínicos sugerem que a terapia é bastante promissora e nos trazem esperança de que no futuro o diabetes tipo 1 seja uma doença curável.




4. Duncan MD, Wilkes DS. Transplant-related immunosuppression: a review of immunosuppression and pulmonary infections. Proc Am Thorac Soc. 2005 ;2(5):449-455.

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